“Eu nunca imaginei que uma mulher como aquela pudesse se interessar por mim”.
Pronto, meu ego foi ao chão. E minha imaginação às nuvens. Uma mulher como aquela devia ser loira, alta e linda como uma diva do cinema antigo. Uma mulher como aquela faria ioga, pilates, equitação ou algo do tipo. Teria um ar blasé quando toma um gole de vinho. Uma mulher como aquela falaria inglês, espanhol e francês e, como se não bastasse, ainda ensinaria mortais a serem poliglotas também. Uma mulher como aquela, não satisfeita, seria pós-graduada, com uma dissertação de nome bem difícil de entender. Teria viajado muito, mas não a lugares comuns. Nunca à Califórnia, Deus-me-livre. Teria ido, sim, à Indonésia e, claro, à Índia, porque seria espiritualizada e acreditaria na essência boa do ser humano, apesar de tudo. Seria aventureira, livre, despudorada no limite do sensual. Teria três orgasmos numa noite, um certo mistério no olhar, daria cursos por todo o país e ainda assim se comportaria como a mais frágil das criaturas para seduzir. Uma mulher como aquela seria politizada sem ser chata, gostaria de boa música e não criticaria as idiotices de ninguém. Ridícula, nunca.
Uma mulher como aquela não sou eu.
Ainda bem.
